“Mas ele conhece o caminho por onde ando; se me puser à prova, aparecerei como o ouro.” Jó 23:10 (NVI)
A Bíblia nos ensina que passamos por “provas” todos os dias, e que devemos estar sempre preparados para passar por elas para sermos aprovados ao final. A aprendizagem, assim como a vida, é um processo contínuo, com provações a serem vencidas, somos avaliados o tempo todo nesse percurso. E quem nos avalia é justo e o faz com amor, nos corrige, quando necessário e indica o caminho certo.
Da mesma forma nós educadores temos de executar essa função de avaliar, para além cultura impregnada no meio escolar, por meio de uma visão bíblica do processo de avaliação.
A origem da palavra “avaliação”, traduzida da palavra inglesa assessment, com base no latim assidere, tem o significado de “sentar junto”. Isso sugere praticar a Abordagem Tutorial, acompanhar um percurso de vida da criança, durante o qual ocorrem transformações em todas as suas dimensões, com a intenção de proporcionar e dar suporte ao seu pleno desenvolvimento.
Essa definição se aproxima do que chamamos de avaliação formativa ou avaliação para a aprendizagem, que faz a pergunta “ Como posso usar a avaliação para melhorar a aprendizagem do aluno? Esse tipo de avaliação se refere a avaliar e analisar o trabalho produzido pelo aluno, seus pontos fortes e fracos, identificando maneiras de melhorá-lo. Ela serve para promover a aprendizagem enquanto o aluno ainda está aprendendo.
Steven Levy (2022) se refere a esse tipo de aprendizagem como:
“é o “processo contínuo de coleta e interpretação de evidências sobre o aprendizado do aluno com o objetivo de determinar onde os alunos estão em seu aprendizado, para onde precisam ir e qual a melhor forma de chegar lá”. O público são alunos e professores. As informações coletadas fornecem feedback para os alunos focarem seu aprendizado e para os professores ajustarem a instrução.”
A avaliação formativa ou para a aprendizagem traz a experiência para os alunos de refletirem sobre seu aprendizado e progresso se tornando responsáveis por seu próprio desenvolvimento. Os alunos são capazes de avaliar onde estão em relação aos objetivos da aprendizagem, aqui os alunos estão preparados e sabem o que vai cair em uma prova e tem feedback sobre seus erros e acertos, junto com o professor, analisam os resultados e o que precisa ser feito para alcançar a aprendizagem.
Para Webster(1828), avaliação significa o ato de estimar, de atribuir valor a algo, isto significa dar valor a algo que foi produzido. Essa definição se aproxima do significado da avaliação somativa refere-se às avaliações com as quais estamos mais familiarizados. A avaliação da aprendizagem faz a pergunta: “Os alunos dominam o conteúdo e as habilidades esperadas neste curso? Esse tipo de avaliação se refere ao processo de coletar e interpretar evidências da aprendizagem em um determinado momento, a fim de fazer julgamento sobre a qualidade da aprendizagem adquirida pelo aluno com base em critérios estabelecidos e atribuir valor para representar essa qualidade. Ela é aplicada ao final, ou depois que a aprendizagem ocorreu utilizando-se de instrumentos para “medir” o desempenho do aluno.
Os instrumentos utilizados para esse tipo de avaliação são as provas e trabalhos que geram nos alunos as famosas perguntas do dia a dia ; “ vai valer nota?” “vai cair na prova?”. O que motiva os alunos a realizar seu trabalho são as notas. Esses instrumentos devem estar no mesmo nível cognitivo dos objetivos de aprendizagem desenvolvidos em sala de aula, portanto se deve aplicar somente aquilo que foi desenvolvido em sala, nada mais complexo do que isso.
Esse tipo de avaliação também é necessário, porém não deve ser o método predominante na escola. Sob uma visão bíblica a avaliação somativa não proporciona nenhuma redenção ao aluno, pois não colabora para saber com certeza se o aluno aprendeu, além de gerar uma mentalidade de que nascemos bons em algumas áreas e em outras não, e nada pode ser feito para trazer mudanças. O aluno considera que seu valor está em uma nota.
Já a avaliação formativa o aluno será capaz de compreender que seus pontos fortes podem ser ampliados e que seus pontos fracos, seus erros, podem ser superados. Os instrumentos utilizados são a olhar mais atento e observador do professor para as ações e reações de seus alunos, compreendendo suas individualidades, e o desenvolvimento de estratégias de ensino e aprendizagem para que os alunos sejam capazes de identificar o que já sabem e o que podem ainda aprender estabelecendo objetivos diferenciados a cada momento da aprendizagem. Aqui cabem as rubricas, autoavaliações, feedbacks, grupos de trabalho, debates em sala de aula. O aluno é constantemente inspirado a buscar e ter prazer pelo aprendizado, pelo conhecimento, se autoavalia e sabe que seu valor está em quem ele é.
Como educadores é importante formarmos um pensamento bíblico acerca da avaliação, vejamos alguns princípios importantes que encontramos na Bíblia:
A avaliação requer um padrão: a abordagem baseada em padrões é exemplificada em Gênesis no relato da criação, cada dia da criação foi avaliado e no final de tudo Deus diz “ e viu que era tudo muito bom” (Gênesis 1:31), Deus tinha um padrão para avaliar o que executou.
A avaliação tem significado espiritual: O homem é desafiado a crescer espiritualmente, Deus permite provações, a fim de que avancemos e alcancemos o alvo. – (Deuteronômio 13:3; https://www.biblegateway.com/passage/?search=Ecclesiastes+12:14&version=NETProvérbios 17:3; Filipenses 3:12; Apocalipse 3:10).
Avaliação é aprendizado: o objetivo principal da avaliação é que os alunos aprendam, descartando o erro e afirmando o que é verdadeiro e certo – “Ensinem-me, e eu me calarei; mostrem-me onde errei” (Jó 6:24; Lamentações 3;40;1 Tessalonicenses 5:21; Filipenses 4:8; Hebreus 12:11).
Avaliar requer imparcialidade: como educadores, devemos evitar favoritismo por um lado e discriminação por outro. A Escritura nos lembra “que Deus não mostra parcialidade” (Atos 10:34 ); “Não é bom mostrar parcialidade no julgamento” (Provérbios 24:23 )
Para ser avaliado é preciso estar preparado: a avaliação ocorre em todo tempo, para isso é preciso estar preparado para ser provado e passar pela prova – “É certo que a prova virá” (Deuteronômio 8:16; 1 Timóteo 4:13; 14 ; Lucas 12:40 ; Salmo 66:10; Ezequiel 21:13)
Ser avaliado e não comparado: deve-se evitar comparações interpessoais, temos de utilizar a avaliação referenciada por critérios, em vez de simplesmente comparar os alunos uns com os outros – “Com quem vocês me compararão ou a quem me considerarão igual?” (Isaías 46:5; 2 Coríntios 10:12; Gálatas 6:4).
Ser capaz de se autoavaliar: como educadores, devemos avaliar a nós mesmos e a eficácia do nosso ensino (2 Coríntios 13:5; 1 Coríntios 11:28), incluindo a forma como abordamos a avaliação. Devemos também envolver os alunos na autorreflexão e ajudá-los a acompanhar seu próprio progresso – “Cada um examine os próprios atos, e então poderá orgulhar-se de si mesmo, sem se comparar com ninguém”(Gálatas 6:4).
Avaliar integralmente: a avaliação não é apenas a demonstração de conhecimento e habilidade, devemos também considerar a intenção e o esforço, tanto “coração como mente” (Salmos 26:2) – “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” (João 7:24). Embora certamente existam padrões a serem cumpridos, devemos avaliar com um coração compreensivo (Efésios 4:32). Devemos garantir que “a misericórdia triunfe sobre o juízo” (Tiago 2:13).
Quem avalia deve fornecer encorajamento: embora devamos evitar generalizações efusivas (“Você é tão inteligente!”), o elogio focado em ações ou realizações específicas, ou a demonstração de atitudes positivas, é afirmativo -“A palavra dita no devido tempo é como maçãs de ouro em salvas de prata” (Provérbios 25:11); “Consideremos como podemos estimular uns aos outros ao amor e às boas obras” (Hebreus 10:24).
Quem avalia deve fornecer suporte: professores devem usar estratégias para permitir o sucesso do aluno. Isso é particularmente eficaz para alunos com necessidades especiais. Simplesmente ter alguém acreditando em você é motivador. Os alunos são revigorados à medida que estendemos a esperança (Jeremias 29:11; Filipenses 4:13).
É preciso ter uma visão clara e compreensível dos objetivos de aprendizagem : quando Deus nos instrui, o “alvo de aprendizagem” é claro como cristal. Pensemos, por exemplo, nos frutos do espírito em Gálatas 5:22-23, esses são “alvos de aprendizagem” para nos tornar como Cristo. Professores necessitam saber exatamente o que pretendem avaliar, e isso exige planejamento e estabelecimento de objetivos. Também precisam transmitir claramente aos alunos o que deles se espera como resultado da aprendizagem.
A avaliação e seus resultados são parâmetros para refinar o currículo e orientar a instrução: muitas vezes é preciso reconhecer os desvios e corrigir o caminho, a direção a ser seguida, para se alcançar o alvo. (Isaías 28:26; 1 Coríntios 9:26, Provérbios 2:20; Salmo32:8,9).
Podemos ver nos textos citados, que a Bíblia apresenta uma rica variedade de nuances para elaborarmos um pensamento acerca da avaliação. Deus se utiliza da avaliação para nos instruir, ensinar e aconselhar e está conosco passo a passo, perdoando, corrigindo, encorajando, apresentando pacientemente a lição novamente de uma nova maneira até que a dominemos, sempre com um olhar amoroso e piedoso. Que esse seja o nosso “olhar “ ao praticarmos a avaliação.
Por Eliane Rigott
Referências bibliográficas
Vários Autores. Metodologia da AEP [livro eletrônico] : uma abordagem reflexiva. – 1. ed.- São Paulo, SP : AECEP, 2022.
Schenk, Kevin, “Formative Assessment in the Christian Classroom” (2012). Master of Education Program Theses. Disponível em: https://digitalcollections.dordt.edu/med_theses/34