Por Marcos Meier.
Recentemente, um grupo de crianças pequenas passou por um teste muito interessante. Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, que elas executariam, contudo, sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois de certo tempo. Em seguida, foram divididas em dois grupos.
O grupo A foi elogiado quanto à inteligência: “Uau! Como você é inteligente!”, “Como você é esperto!”, “Que orgulho! Você é genial!”… E outros elogios relacionados à capacidade de cada criança.
O grupo B foi elogiado quanto ao esforço: “Parabéns! gostei de ver o quanto você se dedicou nesta tarefa!”, “É muito bom ver o quanto você se esforçou!”, “Como você é persistente! Tentou, tentou, até conseguir… Muito bem!” E outros elogios relacionados ao investimento realizado e não às capacidades percebidas na criança.
Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira foi proposta aos dois grupos de crianças. Aqui, elas podiam escolher se queriam ou não participar da mesma.
As respostas das crianças surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A não participou.
Não quiseram nem tentar. Por outro lado, as crianças do grupo B aceitaram o desafio. Não recusaram a nova tarefa.
A explicação é simples e nos ajuda a compreender como elogiar nossos filhos e nossos alunos. O ser humano foge de experiências que possam ser desagradáveis. A maioria das crianças, elogiadas apenas pela sua inteligência e esperteza, não quiseram se arriscar a errar, pois o erro poderia modificar a imagem que os adultos tinham delas. Já as crianças elogiadas pelo seu esforço, dedicação à tarefa ou persistência, se dispuseram a tentar, porque independente do resultado da sua ação, a sua postura frente ao trabalho é que seria reconhecida.
Sabemos de “N” casos de jovens considerados muito inteligentes não passarem no vestibular, enquanto aqueles jovens “médios” conquistam essa vitória. Os “inteligentes”, muitas vezes, confiam na sua capacidade e deixam de se preparar adequadamente. Os outros sabiam que se não estudassem muito não seriam aprovados e, justamente por isso, estudaram mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram em cada uma das disciplinas.
No entanto, isso não é tudo. Além dos conteúdos escolares, nossos filhos precisam aprender valores, princípios e ética. Precisam respeitar as diferenças, lutar contra os preconceitos, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas. Não se consegue nada disso por meio de elogios frágeis, com enfoque apenas no ego de cada um. É preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se faz com elogios, feedbacks, e incentivos ao comportamento esperado.
Nossos filhos precisam ouvir frases, como: “Que bom que você o ajudou, você tem um bom coração”, “Parabéns, meu filho, por ter dito a verdade apesar de estar com medo… Você é ético”, “Filha, fiquei orgulhoso de você ter dado atenção a sua colega novata ao invés de tê-la excluído, como algumas de suas colegas o fizeram… Você é solidária”, “Isso mesmo, filho; deixar seu primo brincar com seu videogame foi muito legal, você é um bom amigo”.
Elogios desse tipo estão fundamentados em ações reais e reforçam o comportamento da criança, que tenderá a repeti-los. Isso não é “tática” paterna, é incentivo real.
Por outro lado, elogiar superficialidades é uma tendência atual. “Que linda você é, amor!”, “Acho você muito esperto, meu filho!”, “Como você é charmoso!”, “Que cabelo lindo!”, “Seus olhos são tão bonitos!”.
Elogios como esses não estão baseados em fatos, nem em comportamentos, ou atitudes. São apenas impressões e interpretações dos adultos. Em breve, essas crianças estarão fazendo chantagens emocionais, birras, manhas e “charminhos”. Quando adultos, não terão desenvolvido resistência à frustração e a fragilidade emocional estará presente.
Homens e mulheres de personalidade forte e saudável são como carvalhos que crescem nas encostas das montanhas. Os ventos não os derrubam, pois cresceram na presença deles. São frondosos, têm copas grandes e o verde de suas folhas mostra vigor, pois se alimentaram da terra fértil.
Que nossos filhos recebam o vento e a terra adubada por nossa postura firme e carinhosa.
Fonte: Marcos Meier é professor de Matemática, Psicólogo e Mestre em Educação. Comentarista em rádio e TV a respeito de educação de filhos, relacionamento e desenvolvimento da inteligência. Além disso, é escritor de sucesso e um dos maiores especialistas brasileiros na Teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva de Reuven Feuerstein, a famosa Teoria da Mediação da Aprendizagem, cursado em Jerusalém, Israel