Rev. Augustus Nicodemus Lop.
Com um crescente número de escolas cristãs surgindo pelo Brasil, devemos inquirir com mais precisão o que é que faz uma escola cristã diferente das demais. Comecemos com a pergunta, “O que é educação cristã?”
Eu gostaria de sugerir que, como o nome já indica, educação cristã é aquela educação feita do ponto de vista do cristianismo. Com isto, não quero me referir à simples inclusão no currículo escolar de disciplinas que tratem da Bíblia ou de temas do Cristianismo. Nem ainda contratar professores evangélicos para dar disciplinas regulares de um currículo, nem providenciar para os alunos serviço de capelania, devocionais e cultinhos durante a semana. Assim, escolas cristãs não são simplesmente aquelas ligadas a uma igreja ou denominação, aplicando regras evangélicas de conduta. Todas estas coisas são boas e importantes, mas penso que a escola cristã deve ir além disto.
A escola cristã é aquela que oferece um processo de treinamento e desenvolvimento da pessoa e de seus dons naturais à luz da perspectiva cristã da vida, da realidade, do mundo e do homem. Isto significa o desenvolvimento de um currículo e um programa educacional onde as disciplinas e atividades reflitam explicitamente a mentalidade cristã. Em outras palavras, escola cristã é aquela que ensina ciências, história, comunicação, sociologia, etc. a partir dos pressupostos cristãos, e que adota teorias e filosofias do desenvolvimento humano e da educação que reflitam o ensino bíblico sobre o homem como imagem de Deus.
Isto nos leva a um ponto muito importante, que é crucial na conceituação de uma escola cristã, ou seja, o papel dos pressupostos na educação. Chamamos de pressupostos da educação o conjunto de crenças, premissas e pré-convicções que criam avenidas pelas quais o entendimento, o conhecimento e o aprendizado se processam. Os pressupostos formam o que podemos nos referir como a mentalidade por detrás do processo educacional. A mentalidade controla tudo o que se faz na escola, desde o ensino, a escolha de livros, de professores e a metodologia até a determinação do currículo. Por exemplo, a mentalidade secular e humanista, adotada pela academia secular, pressupõe que o universo é um sistema fechado de causa e efeito, governado por leis fixas e universais. Estas leis só podem ser estabelecidas pelo sistema empírico de observação, experimentação, e formulação de hipóteses. Pressupostos têm que ficar de fora, especialmente os pressupostos cristãos, que professam que o universo é regido por leis criadas por Deus, e que este Deus pode interferir nelas (milagres), guiar a história (providência) e mesmo comunicar-se com o homem (revelação). Oferece explicações sociológicas, psicológicas, históricas, econômicas para o surgimento do mundo, para a origem do homem, para o funcionamento do universo, para o entendimento do homem e suas relações sociais.
Uma escola cristã adota intencionalmente uma mentalidade moldada pelos pressupostos fundamentais do cristianismo, como por exemplo: ser orientada pelo sobrenatural (em oposição ao naturalismo); ver a vida da perspectiva da eternidade, do céu e do inferno; ver a história da perspectiva da providência de Deus; ver o mundo da perspectiva da Criação; ter consciência da presença do mal; reconhecer a corrupção íntima e inerente da raça humana, como raiz de toda sorte de males; afirmar a existência da verdade; aceitar a autoridade das Escrituras; preocupar-se com as pessoas.
Uma escola cristã, portanto, é aquela que trata todas as áreas do conhecimento (ciências humanas, naturais, exatas, sociais, comunicação, etc.) a partir de uma mentalidade cristã, formada pelo ensino bíblico. É a integração de educação e teologia no ensino, desde o primário até o superior. A característica distintiva da escola cristã deve ser a transmissão do conteúdo das disciplinas exigidas (como por exemplo, geografia, história, comunicação, matemática) a partir da mentalidade cristã, integrando a fé ao ensino.