Por Daniel E. Schneider.
Como educadores cristãos, um dos grandes desafios que temos é o de renovar a mente com relação à nossa forma de ensinar. Quanto mais nos aprofundamos na Abordagem Educacional por Princípios, mais percebemos o quanto nossa própria formação inicial como professores foi recheada de conceitos humanistas e o quanto nossas práticas em sala de aula, inconscientemente, podem refletir esses conceitos. Logo, temos a necessidade de estarmos em constante busca por conhecer como a verdadeira educação cristã lida com todos os aspectos do ensino.
Em seu livro Education from a Biblical Worldview (Educação a partir de uma cosmovisão bíblica), publicado pelo Instituto Neemias, E. Daniel Schneider (2004) nos leva a submeter às Escrituras nossas práticas pedagógicas e identificar se temos permitido ideologias humanistas nos influenciar enquanto professores. Um dos pontos abordados pelo autor é o declínio no conteúdo ensinado, que cada vez mais se afasta daquilo que é objetivo e valoriza o subjetivo. Nas páginas 54 e 55, o autor argumenta:
“Nós vivemos em uma cultura que ama expressar suas opiniões, mas tem pouca paciência com o processo de juntar informações factuais. (…) Fatos ficaram em segundo plano. Desde a pré-escola, professores tendem a ser mais preocupados com a autoexpressão da criança do que com seu aprendizado dos fatos, e muito menos preocupados com o aprendizado da verdade. (…) O humanismo em sua exaltação do homem sempre enfatiza a subjetividade sobre a objetividade.
(…) A partir de uma perspectiva bíblica, o conhecimento é muito importante. O conhecimento é a substância da Educação. Jesus comparou a verdade da palavra de Deus ao pão, uma necessidade vital para a vida. O cristianismo é uma religião baseada em fatos. Jesus tornou-se homem em um tempo e lugar específicos na história. Sua morte e ressurreição são fatos históricos. O apóstolo Paulo disse que se a ressurreição de Jesus não fosse um fato histórico, seríamos tolos em seguir a Cristo. (I Coríntios 15:14).
De acordo com a famosa taxonomia de Bloom sobre as habilidades superiores e inferiores do pensamento, absorver informação é a mais inferior das habilidades de pensamento. Segue um resumo do seu ranking abaixo:
Muitos educadores hoje sentem uma urgência de mover os alunos para análise, síntese e avaliação. É pedido às crianças bem pequenas que façam avaliações e formem opiniões baseadas em pouquíssimo conhecimento do assunto. As crianças são incentivadas a expressar “como se sentem sobre” o assunto discutido. Discussões e debates são preferíveis ao invés de leitura e pesquisa. Esta abordagem pode tornar a aula mais divertida, mas ela coloca a ênfase no lugar errado e leva as crianças a pegarem atalhos no aprendizado de conteúdo.”
De acordo com o autor, a pouca ênfase no conhecimento objetivo tem trazido sérias consequências para a sociedade americana (o que pode também ser identificado em nossa realidade brasileira):
“O dicionário define exatidão como precisão e conformidade aos fatos. Essa falta de exatidão e atenção aos detalhes está começando a ter um sério efeito prejudicial na nossa nação. Estudantes dos Estados Unidos continuam a pontuar abaixo da maioria das nações desenvolvidas do mundo em matemática e ciências. As faculdades americanas de ciências, matemática, engenharia e outros campos de alta tecnologia estão cheios de estudantes estrangeiros porque os estudantes americanos não conseguem as notas necessárias. Empregadores estão frustrados com jovens empregados que agem como se a exatidão não fosse importante. Isto não era um problema antes da mudança de paradigma no conteúdo das escolas americanas.
Esta atitude negativa sobre a exatidão afetou até mesmo a teologia cristã. Francis Schaeffer aponta que até mesmo a palavra Deus perdeu o seu conteúdo. A noção moderna de Deus até em igrejas evangélicas tornou-se subjetiva, experiencial e emocional ao invés de ter conformidade com as escrituras.” (página 55)
Qual seria, então, a arma para lutar contra a relativização e o empobrecimento do conteúdo? Scheneider (2004), aponta o amor pela verdade como o caminho. Podemos encontrar a verdade primeiramente na Bíblia, a fonte de toda revelação, e também na criação de Deus. À luz das Escrituras poderemos descobrir a verdade sobre a criação. De acordo com o autor, temos um grande desafio em inculcar a verdade pois vivemos em um tempo em que a verdade tem sido distorcida para atender aos propósitos das ideologias humanistas.
“(…) Devemos retornar a uma atitude de temor e respeito pela verdade. Como professores devemos modelar esta atitude em nossas palavras e ações.
Para inculcar o amor pela verdade, devemos primeiro tê-lo em nossos corações internamente e então devemos expressá-lo externamente. A expressão externa desta atitude não é somente a questão de como tratamos o assunto que está sendo estudado. A forma que disciplinamos nossos alunos irá revelar nossa atitude com relação a verdade. Se sacrificamos a verdade por conveniência, as crianças sob nossos cuidados serão afetadas.
Nosso objetivo deveria ser fazer os alunos perseguidores da verdade. Nós queremos encontrar em nossos alunos um desejo de saber a verdade sobre tudo que eles estudam. Nós não queremos que eles apenas conheçam o que Aristóteles ou Thomas Jefferson ou Mark Twain disseram; queremos que eles tenham o desejo de saber se o que estes homens disseram é verdade ou não.
Isto é o verdadeiro pensamento crítico. É avaliação, o item principal da taxonomia de Bloom. A grande diferença entre a visão humanista de avaliação e a visão bíblica está no critério usado para avaliar, pois o homem humanista é o seu próprio critério. A opinião do homem de pensamento humanista é o juiz. Para o cristão, a palavra de Deus é o juiz.
Como educadores cristãos, queremos que nossos alunos valorizem a opinião de Deus, não a sua própria. Queremos que eles imitem a atitude de Cristo. Jesus nunca começou uma frase com “em minha opinião, eu acho, eu sinto”. Na maioria das vezes ele começou com “está escrito”. Jesus não estava interessado em formar suas próprias opiniões. As opiniões do Seu Pai eram boas o suficiente. A opinião do Seu Pai é a verdade e Jesus ama a verdade.
(…) Nós podemos nutrir uma atitude de respeito pela verdade nos nossos alunos através do tipo de perguntas que fazemos a eles. Podemos começar menos perguntas com “como você se sente” ou “qual é a sua opinião” e podemos perguntar mais questões como “isto é verdade”? (página 106)
Ao inculcar o amor pela verdade, o autor dá especial destaque à necessidade de apresentar aos alunos e ensiná-los a valorizar fontes primárias e fatos:
“Nem toda opinião humana é tão boa quanto qualquer outra opinião humana precisamos ensinar as crianças a respeitar a autoridade da sabedoria, experiência, conhecimento e expertise.
Nesta mesma linha nossos alunos precisam desenvolver um respeito pelas fontes primárias e testemunhas oculares. Uma forma que podemos fazer isto é usar fontes primárias com mais frequência e falar delas com respeito.
Uma das autoridades mais importantes que devemos ensinar aos alunos é o respeito à autoridade dos fatos. Ao pedir por fatos como suporte para frases e teorias propostas por alunos, professores podem imprimir sobre eles a importância de ter os fatos. Os americanos contemporâneos não se importam mais em conhecer os fatos. Eles estão enamorados com suas próprias opiniões. Isso é uma extrema tolice. (Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. Romanos 1:22). Por causa desta atitude nossa cultura está perdendo o contato com a realidade. (E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm. Romanos 1:28). Uma cultura que não mais se importa com os fatos está fadada à destruição.
Verdadeiros perseguidores da verdade irão desejar o conhecimento através dos fatos. Eles irão permanecer em contato com a realidade. Eles irão ser a esperança para o futuro da nossa civilização. Ao nutrir um amor pela verdade em seus alunos, educadores cristãos podem causar um impacto para muito além das paredes de suas salas de aula.” (página 106)
Que em sua imensa misericórdia o Senhor possa imprimir em nós este amor pela verdade e nos usar para espalhar este amor nesta geração.
Por Daniel E. Schneider.
Fonte: Schneider, E. Daniel. Education from a Biblical Worldview. 2004. Lexington, KY: Neemiah Institute. (Tradução livre: Thalyta Duczak Alves).