Por Rubens Cartaxo.
Quando buscamos maior aprofundamento nas tradições que envolvem os festejos juninos, com certeza, nos deparamos com uma inegável presença de paganismo envolvendo as origens destes festejos – celebrações relacionadas ao tempo de colheita dos frutos da terra (geralmente no solstício de verão ou inverno, dependendo o hemisfério). Muito embora este pano de fundo pareça afastar a singularidade destas festas, num contexto judaico-cristão, necessitamos olhar mais de perto toda esta questão através da perspectiva das origens das tradições humanas e considerarmos a responsabilidade que nós temos, como cristãos, de apontarmos para um mundo onde Deus é Senhor de todas as coisas.
As Festas Juninas e sua relação com as Celebrações das Colheitas
Estes festejos possuem origem nas mais antigas celebrações das colheitas, muito comum em todas as culturas, das mais remotas como também as mais primitivas.
Desde as primeiras civilizações, o homem sempre procurou ao longo da construção da sua cultura celebrar este momento quase mágico – a colheita dos frutos da terra. Estes eventos, de alguma maneira, sempre indicavam reverência a alguma divindade atribuindo-lhe participação nesta maravilha – a colheita abundante que surge da terra para o alimento e prosperidade. Sempre existiu e existirá esta relação de êxtase diante de uma colheita. A colheita é o desfecho de um longo período de trabalho, suor, reveses, incertezas, que por vezes, levam o homem a buscar no transcendente uma forma de ajuda e proteção. Assim, quando se recolhe os frutos e se alcança êxito, é sempre digno de ser comemorado e as suas divindades celebradas por sua cooperação com o trabalho humano.
Após a queda, com uma espiritualidade comprometida e bem afetada pelas sombras do engano, o homem busca uma maneira de atribuir uma colheita farta aos seus deuses. Ver a semente brotar da terra, crescer e frutificar isto sempre foi visto como um fato maravilhoso pela racionalidade humana. O percurso até este momento sempre foi marcado por muitos imprevistos e situações em que todo um longo e árduo trabalho poderia ser perdido. Assim, cada povo e cultura assumia uma divindade a ser invocada e também celebrada diante deste milagre da provisão que brotava do chão, agradecendo a proteção e a sua bênção adicional ao trabalho humano.
Como nunca deixou de existir, em todos os tempos, houve aqueles a quem é concebida a revelação da verdade, do Deus criador e mantenedor da sua criação. O conhecimento do Deus verdadeiro, a estes, os levou a uma devoção sadia e verdadeira que os fizeram sempre atribuir a gratidão pelas abundantes colheitas ao Criador e verdadeiro Senhor da vida que abençoa o homem com a capacidade de plantar e colher.
No relato bíblico, por ocasião da construção de uma nação modelo, que levasse adiante a vontade do Deus criador e fosse guardiã dos seus valores e intenções para com o homem, também encontramos referência a estas celebrações de colheitas sendo recomendadas pelo próprio Deus como memoriais à Sua provisão.
“E a festa da sega dos primeiros frutos do teu trabalho, que houveres semeado no campo, e a festa da colheita, à saída do ano, quando tiveres colhido do campo o teu trabalho.” Êxodo 23:16
Hoje, o homem moderno, nascido no contexto da era da tecnologia (dos transgênicos, dos poderosos agrotóxicos, dos cultivos mecanizados, dos sistemas de irrigação etc.) e ainda do poderoso argumento humanista onde o homem passa ser um semideus, celebra as suas ambiciosas colheitas idolatrando cada vez mais as tecnologias de produção e o vasto conhecimento humano para produção de alimentos, bens e serviços. Ele exclui completamente das suas manifestações culturais qualquer menção a dependência e reverência para com o soberano Deus criador e em vez disso, atribui poderes quase divinos a ciência, a tecnologia e a si mesmo.
“Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.” Romanos 1:21 (ver mais em Rm 1:19-25)
Diante de toda esta realidade ‘materialista’, é hora de semearmos no coração dos nossos filhos e da próxima geração as sementes da devoção ao Deus da Criação. Ainda que os recursos e conhecimentos destinados a produção dos alimentos tenham se multiplicado, ainda assim o homem deve a Deus a sua gratidão pela sua cooperação em todo o processo. Ele é a fonte e provisão de toda a vida neste planeta. Ainda que hoje tenhamos o conhecimento dos processos e ciclos de crescimento e desenvolvimento das culturas, não exclui o reconhecimento e os créditos para com o Senhor e mantenedor de todas as coisas.
Agora é a nossa vez, nós que fazemos parte destes que reconhecem o Deus criador e provedor. Somos aqueles que O reverenciam por sua graça e favor dispensado a nós através da sua bênção sobre o nosso trabalho e nossas colheitas. É nossa responsabilidade resgatar a alegria da celebração das colheitas e conduzi-la em direção ao altar devido. Na sociedade pós-moderna, cada vez mais as nossas colheitas parecem não depender de fatores naturais e imprevisíveis como clima (temperaturas, ventos e chuvas), pragas, saqueadores, entre tantos outros fatores presentes nas culturas predominantemente agrícolas de outras épocas. De qualquer forma, ainda comemos e dependemos dos alimentos que brotam do solo, ainda tomamos leite e apreciamos as frutas e verduras. Mas, embora muitas ocupações de hoje não sejam ligadas a terra … existem muitas outras coisas a serem plantadas e cultivadas … e que igualmente àquelas, necessitam da boa mão de Deus fazendo-as prosperar. Podemos até ter experiência naquilo que fazemos e possuirmos recursos suficientes, mas, ainda assim, dependemos da bênção de Deus para que o alimento chegue à mesa das nossas casas. Ele ainda é o Deus da providência. A Ele seja a glória!
“Honra ao Senhor com os teus bens, e com a primeira parte de todos os teus ganhos; E se encherão os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares.” Provérbios 3:9, 10
Cremos que este período do ano é muito favorável a, aproveitando o gancho cultural dos festejos juninos por ocasião das colheitas do milho, podemos direcionar as nossas celebrações de colheitas ao Deus de toda providência. Assim, esta deve ser a conexão e motivação das celebrações juninas no contexto da escola cristã. Celebrarmos a Sua boa mão sobre nós, contarmos as suas maravilhavas e nos alegrarmos pelas bênçãos sobre nossas colheitas. Precisamos contar as próximas gerações a verdade sobre isto e a verdade se pauta na realidade onde Deus é o Senhor de todas as coisas.
“O que ouvimos e aprendemos, o que nossos pais nos contaram. Não os esconderemos dos nossos filhos; contaremos à próxima geração os louváveis feitos do Senhor, o seu poder e as maravilhas que fez.” Salmos 78:3-4
Princípios e ideias associadas:
Soberania: Deus pensou na produção de alimentos, nos diversos tipos de plantas e na capacidade humana para gerar o seu alimento. Plantar e colher é parte do plano generoso de Deus para o homem.
Deus abençoa o homem, abençoa a terra e o fruto da terra. Ele é conhecido como o Deus da provisão. Ele estabelece o tempo e permite a chuva e a seca. Tudo está em no poder das suas mãos.
“Ele rega os montes desde as suas câmaras; a terra farta-se do fruto das suas obras. Faz crescer a erva para o gado, e a verdura para o serviço do homem, para fazer sair da terra o pão.” Salmos 104:13,14
Caráter: o trabalho humano e seu resultado. O trabalho de um abençoa os outros.
“Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos. Pois comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem.” Salmos 128:1,2
“Pois é Deus quem supre a semente para o que semeia e depois o pão para seu alimento. Da mesma forma, ele proverá e multiplicará sua semente e produzirá por meio de vocês muitos frutos de justiça. Em tudo vocês serão enriquecidos a fim de que possam ser sempre generosos.” 2 Coríntios 9:10,11
Semeadura e colheita: só colhe quem planta; se colhe o que se plantou; a colheita depende do local da semeadura e do processo de cultivo.
Mordomia: com os recursos e com os resultados da colheita.
“Lançarás muita semente ao campo; porém colherás pouco, porque o gafanhoto a consumirá.” Deuteronômio 28:38
“Deem e receberão. Sua dádiva lhes retornará em boa medida, compactada, sacudida para caber mais, transbordante e derramada sobre vocês.” Lucas 6:38
“Lembrem-se: quem lança apenas algumas sementes obtém uma colheita pequena, mas quem semeia com fartura obtém uma colheita farta.
Deus é capaz de lhes conceder todo tipo de bênçãos, para que, em todo tempo, vocês tenham tudo de que precisam, e muito mais ainda, para repartir com outros.” 2 Coríntios 9:6-8
Por Rubens Cartaxo.
Foi diretor de escola cristã por 21 anos e hoje escreve currículos e publicações para apoio a escolas cristãs através da Editora Imago Dei, que dirige, e também com parcerias com outras editoras.