Por Gilson Hoffman
1 – DELIMITAÇÃO
Ao abordarmos sobre as razões para ser um professor numa escola e falar sobre o amor de Deus, encontramos algumas respostas das quais destaco as seguintes: 1. Para ensinar do amor de Deus pela humanidade pecadora. O homem nada pode fazer na sua relação com Deus; ele carece inteiramente da iniciativa de Deus para que o homem seja liberto da escravidão do pecado e assim torne-se livre para exercer sua vocação no mundo. 2. Para compartilhar deste amor através da vocação que nos compromete não apenas individualmente com a fé, mas também com amor. O amor que se traduz em relações (sociedade) e ética (responsabilidade). E este amor será compartilhado numa relação não só de troca de conhecimento, também através de um processo educativo que visa não somente o bem comum do educando como de toda a sociedade. Estas idéias destacadas são próprias de Lutero no século XVI, que em 1524 queixou-se de que em todas as partes da Alemanha que as escolas estavam no abandono. As universidades eram pouco frequentadas e os conventos estavam em declínio. Mesmo criticando o sistema dos conventos e mosteiros, Lutero não considerou supérfluo o ensino e estimulou que se os magistrados gastam tanto dinheiro para adquirir armamento ou para a conservação de estradas, por que não levantar igual soma para a pobre juventude necessitada?
2 – PROBLEMA
Contrariando o pensamento dos humanistas, Lutero não coloca o homem como centro e agente do processo educativo. Lutero coloca Deus e identifica o evangelho e a graça de Deus como fundamentais para a educação. Partindo da ação de Deus, Lutero distingue claramente os papéis divinos e humanos no aprendizado humano. O que Deus faz é justificar o homem, preparando-o espiritualmente; já o aprendizado humano é temporal, subordinado ao ensino divino. O propósito da educação para Lutero não é apenas de prover uma boa conduta moral ou ética, mas também de dar certeza da condição eterna do plano de Deus. Lutero estabelece três argumentos para a necessidade da educação cristã: 1. para proteger as crianças das tentações do diabo que quer afastá-las de Deus; 2. se Deus quer que pessoas sejam educadas, não podemos negligenciá-la; 3. a mais importante é ordem de Deus. Isto Lutero retira do 4º Mandamento. Caracterizando o homem com sua capacidade de aprender, Lutero parte da criação como imagem de Deus. Esta imagem, a partir da queda em pecado, está corrompida, e precisa ser redimida pela graça de Deus em Cristo Jesus. Professores que ignoram isto ignoram a obra de Deus; por isso, para Lutero, os professores assumem também um papel espiritual, já que precisam ensinar a respeito da obra de Deus em Cristo Jesus e não só em questões seculares. Portanto, educação passa pela conversão que prepara o indivíduo às questões da vida.
3 – TEXTO EM PESQUISA
O presente texto tem como objetivo discutir o tema da influência de Martinho Lutero na educação a partir de 1517, ou seja, a partir da Reforma da Igreja. Seu pensamento foi e continua sendo motivo e objetivo de muitos debates, uma vez que não há em Lutero uma concepção elaborada e fundamentada de educação. O tema educação na sua obra esteve ligado diretamente à sua teologia e às propostas de reforma da igreja e, conseqüentemente, social. Conclui-se então, que suas concepções doutrinárias explicam o seu pensamento educacional. Lutero foi notoriamente reconhecido em seus embates, tomando a frente em muitos deles, buscando mudanças que achava ser necessárias para a sua época. O fez, pois era visível a necessidade de transformações, e, não por capricho de alguém de parecia estar isolado do mundo. Mas, com afinco, lutou para que estas transformações pudessem acontecer, tanto dentro da Igreja, como também na sociedade de então.
Torna-se necessário conhecermos um pouco mais de Lutero e de seu contexto histórico, para assim, conseguirmos entender o que ele fala a respeito da educação, e quais os seus propósitos quanto às transformações esperadas pelo mesmo. Podemos perceber em Lutero sua visão teocêntrica da educação. Seu pensamento é de que educar deriva da própria natureza das coisas e não é uma prerrogativa dos cristãos, ou um mandato específico para os cristãos. Na verdade, o que se tem em mente, é o melhor para os filhos. Pois, o aprender e o ensinar fazem parte do mesmo contesto da vida. Segundo Lutero, o homem recebeu este dom da parte de Deus, e, com toda certeza, saberá usufruir do mesmo, desempenhando cada vez melhor esta tarefa a ele confiada, pois, a educação é algo que deve vir acompanhada dos pais – seu incentivo – e autoridades – proporcionando meios adequados para que isso aconteça. Lutero nasceu na cidade de Eisleben, na Turíngia, em 10 de novembro de 1483, filho de família numerosa, tendo pai como trabalhador em minas de cobre, com isso, desde cedo pode perceber a dificuldade de vida e trabalho, o que o levou a valorizar ainda mais os estudos, tornando-se intelectual.
Formou-se em Artes na faculdade de Erfut e no mesmo ano começou a lecionar. Iniciou seus estudos de Direito por pressão do pai, não por opção própria, pois o pai pensava em seu futuro, almejando um cargo importante para seu filho. Mas, contrariando seu pai, Lutero ingressa em um mosteiro para ser padre. Prosseguiu com seus estudos teológicos o que o auxiliou ainda mais na sua função de professor. Lutero ficou contrariado com os ensinamentos da Igreja Católica de então, principalmente com a Bula da venda de indulgências, onde o ser humano poderia comprar o seu perdão. E, com isso, a Igreja conseguiria angariam fundos para a construção da Basílica. Porém, por meio de seus estudos no Livro de Romanos (Bíblia), Lutero chegou a conclusão que o homem é salvo pela sua fé, e não por obras. A partir daí, elaborou um documento com 95 teses e a afixou na porta da Igreja, como uma forma de protesto e ao mesmo tempo de orientação para a população. Esta atitude de Lutero o levou à excomunhão, e ao mesmo tempo tornou-se proscrito e considerado herege pela Igreja Católica. Mesmos assim, elaborou documentos importantes, tanto na área teológica, como política e educacional e as apresentou para os seus seguidores. Lutero contraria a teoria humanista de Erasmo, que defendia ainda, que a educação era necessária contra o barbarismo que imperava na civilização do século XVI. Para ele, é pela educação que o ser humano consegue se distinguir das demais criaturas, caracterizando a ação humana como ato racional e dos animais como instintivos. Por isso a educação torna-se necessária porque é ela que irá produzir a racionalidade necessária que caracteriza o ser humano.
Erasmo parte da condição do homem de seu estado “inocente”, defendendo que a mente infantil precisa ser preparada e treinada pelo professor antes que ela se torne corrupta. O professor é modelo para o aluno e o sistema educacional precisa prover o educando com o melhor para que possa amadurecer moralmente. A bíblia então se tornou uma fonte de padrão e conteúdo moralizante, sendo que Jesus é um exemplo de mestre por excelência. Os padrões gregos e latinos são incorporados ao ensino moral do cristianismo, caracterizando-se assim como ensino humanista necessário para uma boa sociedade. A partir dos clássicos o ensino cristão pode ser incorporado na vida do aluno, perfazendo-se assim o básico para uma vida moralmente digna. Sua meta de educação (Erasmo) era criar uma piedade que mescla princípios naturais e bíblicos. Contrariando o pensamento de Erasmo, Lutero não coloca o homem como centro e agente do processo educativo, mas Deus, e identifica o evangelho e a graça de Deus como fundamentais para a educação. Com este pensamento – que parte da ação de Deus – Lutero distingue claramente os papéis divinos e humanos no aprendizado do homem. O que Deus faz é justificar o homem, preparando-o espiritualmente; já o aprendizado humano é temporal, subordinado ao ensino divino. O propósito da educação para Lutero não é apenas de prover uma boa conduta moral ou ética, mas também de dar certeza da condição eterna do plano de Deus. A contribuição de Lutero à reforma educacional no século XVI se dá em escrever, pregar e organizar o sistema de educação, muito provavelmente o fundamento para todo o sistema moderno de ensino.
Lutero elaborou escritos interessantes sobre a educação, entre eles, em 1520: “À Nobreza cristã da nação Alemã, acerca das melhorias do estamento cristão”. Sua intenção era que este documento servisse de auxílio para mudanças nas escolas e universidades, com o propósito de preparar melhor os ministros do Evangelho em seus estudos bíblicos e no ofício da palavra. Neste documento, Lutero reprova a supremacia de Roma em relação à interpretação bíblica. Outro escrito foi elaborado em 1524: “Aos Conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs”. Aqui Lutero defende a criação e manutenção de escolas para todas as crianças. Para Lutero, as autoridades são representantes diretas de Deus na terra, portanto devem contribuir para o bem da humanidade. Em 1530 Lutero publicou mais um escrito relacionado à educação: “Uma prédica para que se mandem os filhos à escola”. Trata-se de uma pregação de exortação aos pais sobre a responsabilidade de proporcionarem uma educação cristã aos filhos. Fala da necessidade de se preparar os jovens para exercerem sua vocação, tanto espiritual, como secular. Este modelo de educação instituído por Lutero, no século XVI, visava atender às novas aspirações para uma sociedade cristã, empreendida também por outros reformadores depois dele. O objetivo dessa educação era transmitir e formar as novas gerações um novo pensar religioso, calcado nas verdades bíblicas e para isso, Lutero, empreendeu seriamente debates com a sociedade de seu tempo, lançando apelos em prol de uma sociedade renovada para o povo alemão. Nos escritos de Lutero, vemos que a educação é dependente de sua teologia. É uma visão que muito contribuiu, não apenas para a melhoria na educação da Alemanha de seu tempo, mas também, para o surgimento de alguns elementos próprios dos tempos atuais: a universalização da escola e a ideia da obrigatoriedade da educação básica. Mesmo que para o reformador estes princípios estivessem ligados a uma economia da salvação, a partir de Lutero estes foram adotados por todos os estados modernos.
A escola, na perspectiva de Lutero e seus colaboradores, deveria proporcionar tanto o ensino secular quando inculcava nas crianças a disciplina e as instruir nas matérias seculares como o ensino espiritual, pela instrução cristã e pelos exercícios que permitiam às crianças um contato mais próximo com as cerimônias e os costumes eclesiásticos da igreja cristã. Lutero introduziu o ensino religioso nas escolas, e com relação ao ensino secular, manteve o ensino humanista já presente no final da idade média. A sua insistência se caracterizou em municipalizar o ensino e colocar as crianças em contato com a história. Estes dois aspectos são fundamentais para se entender Lutero, pois assim proporcionou que se colocassem novamente o texto bíblico na mão das pessoas e ao mesmo tempo criticou o espírito humanista de sua crítica à palavra de Deus, que semeava dúvidas e incertezas sobre a revelação de Deus.